PATRIMÔNIO AMEAÇADO: A preservação do edifício da SMOV – Porto Alegre/ RS

O Docomomo Brasil vem a público manifestar o seu apoio para a preservação do edifício sede da Secretaria Municipal de Obras e Viação/ SMOV. O projeto, 1966-1970, de autoria dos então funcionários públicos e arquitetos do município: Moacyr Moojen Marques, João José Vallandro e Léo Ferreira da Silva, reúne aspectos fundamentais (histórico, urbanístico e arquitetônico) que justificam largamente sua preservação.

Acesse a Carta de apoio emitida pelo Docomomo Brasil:

SMOV, Fotos Arq. Moacyr Moojen Marques, 1969. Acervo FAM/PROPAR.

O arquiteto, urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ FA-UFRGS, Sérgio Moacir Marques (secretário executivo do Docomomo Núcleo RS), discorre em um breve resumo sobre as principais atribuições que reforçam a significação desse bem imóvel para a Arquitetura e Urbanismo da região sul do Brasil.

Segundo Sérgio, o edifício sede da SMOV apresenta relevância:
Sob o ponto de vista histórico: O Rio Grande do Sul não teve a mesma potência formal e vanguardismo, como na Arquitetura Moderna Brasileira praticada no Rio de Janeiro, então capital Federal e São Paulo, capital econômica do país. No entanto, no campo do urbanismo moderno, Porto Alegre, para muitos pesquisadores do meio, se iguala ou ultrapassa outras capitais brasileiras em termos de pioneirismo e tradição. Desde o “Plano de Melhoramentos” de 1936 e o “Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre” de 1938, elaborados pelos Urbanistas de prefeitura Evaldo P. Paiva e L. A. Ubatuba de Farias, passando por um dos primeiros cursos de urbanismo do país, criado na UFRGS nos anos 1940, até o “Plano Paiva” desenvolvido nos anos 1950, os cânones do Movimento Moderno se manifestaram explicitamente e de maneira profunda no planejamento urbano da cidade. Ato contínuo deste processo, a criação da Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras, na década de 1950, liderada por Paiva, teve como ponto de culminância, movimento dos técnicos da municipalidade reivindicando a construção de uma sede própria, à altura da relevância do planejamento da cidade, cujo produto é a sede da SMOV;

– Sob o ponto de vista urbanístico: A SMOV foi construída, sobre a área do aterro da Praia de Belas, área conquistada ao estuário Guaíba, o maior aterro fluvial do mundo, em seu momento, praticamente duplicando a superfície do centro histórico de Porto Alegre. Objeto de projetos especiais, durante toda a história da capital, o aterro da Praia de Belas tem especial relevância no urbanismo moderno da cidade, em particular na regulamentação do Plano Paiva, em 1961, onde Moojen e Fayet, a mão, desenharam a planta que daria origem ao Parque Marinha do Brasil, a orla pública e o Centro Administrativo da cidade, com edifícios da esfera federal, estadual e municipal. A SMOV, portanto, como parte do conjunto de edifícios públicos da área, é uma peça chave de um plano maior cuja morfologia e estratégia urbanística é representativa do Urbanismo Moderno no sul brasileiro.

SMOV e o aterro da Praia de Belas, Década de 1970. Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter.


– Sob o ponto de vista arquitetônico:
Moacyr Moojen Marques, além de integrante da equipe de urbanistas dirigidas por Paiva, foi de certa maneira seu sucessor, como gerente do planejamento urbano de Porto Alegre, a partir do plano Paiva, até a elaboração do 1° Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU da capital.
Igualmente, como funcionário público, projetou em equipe, o Auditório Araújo Viana, o Edifício Sede da Carris, e mais uma dezena de edifícios, em sua carreira pública e privada, que são representativos da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul. O prédio sede da SMOV tem representatividade em diversos aspectos: funcionalmente adota a ideia de planta livre, com núcleo rígido centralizado e estrutura resistente disposta perimetralmente, de maneira há não ter pontos de apoio nas áreas de uso e garantir flexibilidade. Formalmente, segue certo conservadorismo compositivo filiado às vertentes norte americanas da Escola de Chicago, com a arquitetura de Adler & Sullivan, com volumetria tripartite, base, corpo e coroamento, ligada à tradição acadêmica. O sistema formal das fachadas, com os recessos de térreo e cobertura e a textura dos peitoris, igualmente se situam no universo de outro arquiteto filiado à Escola de Chicago, o célebre Frank L. Wright do qual Moojen era profundo admirador. Sob ponto de vista construtivo, apesar da estrutura resistente ter sido moldada em loco, o edifício segue rigorosos padrões de modulação e expressão geométrica, próprios de uma construção industrializada. Provavelmente influenciado para os pioneiros projetos em pré-fabricação em concreto, no Brasil, realizados para a Petrobras, os quais Moojen realizava em equipe, naqueles mesmos anos. Os peitoris, no entanto, são pré-fabricados em concreto, o que não era comum na constituição de fachadas, nos anos 1960, em Porto Alegre. Internamente, um sistema sofisticado de divisórias e elementos móveis, completava a capacidade de adaptação do edifício a diversas configurações, o que confirma sua vocação à perenidade.

Planta Baixa Pavto. Tipo. SMOV, Moacyr Moojen Marques, João José Vallandro, Léo Ferreira da Silva, 1966. Acervo FAM/PROPAR


Palavras Chave: Arquitetura Moderna, Porto Alegre, Pré-fabricação.
Crédito do texto: Sérgio Moacir Marques, 2022.

Bibliografia referente ao tema :
MARQUES, Sergio Moacir. FAM – Fayet, Araújo & Moojen – Arquitetura Moderna
Brasileira no Sul 1950/1970
. Tese de doutorado. Orient. Carlos E. D. Comas,
co-orient. Hélio Piñon. Porto Alegre: PROPAR , 2012. Premio CAPES de tese, 2013

MARQUES, Sergio Moacir. FAM – Fayet, Araújo & Moojen – Arquitetura Moderna
Brasileira no Sul
. Porto Alegre: ADFAUPA , 2016.


Por: Ivanilson Pereira 
Secretário Executivo do Docomomo Brasil (2022-2023)

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