José Albano Volkmer


foto: INFO IAB-RS

José Albano Volkmer  | 1942 - 2007

O professor que caminha à sombra do templo,
entre seus discípulos, não tem como
dar a eles seus conhecimentos
mas sim sua fé e seu amor.
Se é verdadeiramente um sábio,
não convidará vocês a entrarem
na mansão de seu próprio conhecimento
mas, em vez disso, conduzirá vocês
aos portais de suas próprias mentes.
Kahlil Gibran

Perdemos o querido amigo, professor e colega José Albano Volkmer, mais conhecido como Albano, mas que na verdade sempre foi José, um carpinteiro da democracia, da solidariedade, da luta incansável pelo nossopatrimônio arquitetônico e pela valorização da Arquitetura e do Urbanismo. Um multiplicador de idéias, um agregador. Um homem de rara delicadeza com tudo o que o cercava: pessoas e ambientes.

Conheci-o na antiga SURBAM. Meu primeiro chefe. Acolhedor, estimulador, facilitador porque como mestre, sempre apontava caminhos.

Foi uma de minhas experiências de trabalho mais marcantes. Seriedade, compreensão e afetividade eram naturais. Cedeu-me para a SPHAN, onde estava uma das meninas de seus olhos: as raízes do RS, o legado italiano e alemão, que naquela época não era ainda valorizado em seus conjuntos urbanos.

Foi na Secretaria de Obras que conheci Dulce, incansável cuidadora da Biblioteca, sempre buscando documentos e livros para que fizéssemos o melhor em nosso trabalho público. Amorosa como José, estava ali, a pessoa que mais tarde seria sua companheira. Doce como seu nome, fiquei feliz quando soube que estavam unidos.

Albano estava sempre presente quando havia lutas pela legitimação da luta dos arquitetos. Mas estaria também ao lado de qualquer batalha que tivesse, em sua base, a valorização do ser humano e do que lhe cabe. Hábil articulador, esteve na direção do CREA-RS, no CONFEA, nos muitos encontros de Arquitetura e Urbanismo, lutando pelo nosso conselho - o CAU, pela legislação justa, pela ética profissional. Sempre de braços abertos para o novo e para o passado. Firme e claro assim como seu olhar e o seu aperto de mão: o de um homem bom-senso, com H.

Em 2003, encontrei-o em Passo Fundo, quando participamos da Oficina de Acessibilidade proposta no evento. Andamos de cadeira de rodas com alunos e colegas professores conscientes da importância dos ambientes na inclusão dos portadores de deficiências, cidadãos.

A última vez que o vi percebi suas sobrancelhas muito brancas. Achei-o de um cor que não gosto de perceber nos meus amigos antes de partirem. Ele estava animado ao iniciar um novo movimento em sua vida na Direção da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. E não o vi mais desde lá.

Com enorme tristeza, soube de sua partida. Na hora, o caixão fechado. Muitos momentos que trabalhamos juntos rolavam em minha memória, mas eu não conseguia mais lembrar seu rosto! Que agonia! Lembrava das mãos, do porte, da sua forma de ser mas sua face se esfumaçara. Um dos encontros mais próximo foi quando ele apoiou a Academia Literária Feminina para que fosse patrimônio histórico. Sua única hora disponível? a do almoço. Sim, podem pedir sim, foi categórico. Aqui está o registro histórico de muitas escritoras que tiveram que romper o paradigma da eterna dona de casa. A luta daquelas mulheres que, no máximo, podiam exercer o magistério. Visitou o prédio na rua Sarmento Leite, reuniu-se com a direção e tentou-se um concurso público com o apoio do IAB-RS. Era um homem que sinalizava caminhos.

José Albano Volkmer deixa um legado de postura profissional e humana: respeitabilidade, dedicação, esperança e fé incondicional nas pessoas. Uma lacuna que não há como preencher. Ficamos um pouco mais órfãos. Tão necessitados que estamos de rotas iluminadas!
Obrigada, José!

MARILICE COSTI

Texto gentilmente cedido pela autora, extraído de http://sanaarquitetura.blogspot.com/2007/10/perdemos-o-querido-amigo-e-colega-jos.html#links